Poéticas do movimento imobilizado(ando).

sábado, 20 de setembro de 2008

Me amarro na dança

No início elas já estavam lá. Enroladas, imóveis à espera. As cordas. Comprara muitos metros de vários tipos.
Eu, sem planos. Com algumas expectativas, um saco repleto delas e um case de cd´s que gravara um dia antes do primeiro ensaio.

Escolhi as bailarinas.
Conhecia todas. Conhecia bem.
Sabia o que elas tinham pra me oferecer. Sabia que podia confiar nelas.
Só nao sabia o que fazer com isso agora.
De qualquer forma, me resguardei, fazendo antes do primeiro ensaio, uma reuniao para explicar de que se trataria o trabalho, o que eu tinha em mente e o que eu pretendia com ele.

E lá fomos nós, nos aventurar pelo lindo mundo da dança.

O primeiro ensaio foi o momento onde eu tive a certeza de que tinha escolhido as pessoas certas. Toda uma entrega das gurias e uma disposiçao monstro para explorar as propostas. Saí de lá muito animado e confiante, sabendo que por mais que nao tivesse ideia de onde isso iria dar, em algum lugar legal eu chegaria.

Uma semana depois, o Márcio voltou da Europa e começou a fazer parte do processo. Isso mudou tudo.
A pesquisa se contaminou com o entusiasmo dele e dali fomos cada vez mais pra cima. As gurias cada vez mais dentro do processo. Dando muito delas e se colocando lindamente dentro das propostas, se mostrando como elas sao, sendo verdadeiras e sinceras naquilo que faziam.

Uma das coisas que mais me orgulho de ter alcaçado nesse processo criativo, é ter conseguido ser sutil e atento ao que elas me mostravam e com isso, respeitando os aspectos da invidualidade delas, levá-las pra onde eu queria. Por mais que eu saiba que algumas coisas ainda pudessem ir mais fundo, fiquei muito satisfeito com a maneira como trilhamos o caminho para a criaçao de Bondage.
Sutileza. Essa era a minha ferramenta mais poderoza de dominaçao. Ali eu seria dominador do processo. Sem perder de vista o fato de que na verdade seria o contrário. O processo me dominaria e me processaria, e a diferença entre uma coisa e outra era também muito SUTIL.
Cuidado, muito cuidado e respeito pelo trabalho, afinal ele era eu. Eu me colocando como artista, eu falando pro mundo. Eu dançando, eu pensando, eu dando minha cara pra bater.

Isso faz com que a gente saia do lugar confortável. Eu quis sair desse lugar e, numa medida, proporcionar isso pra todas as pessoas envolvidas no processo. "Amarrei-nos" todos juntos com uma corda grossa de uma fibra chamada "desejo" e assim fomos sendo arrastados pra fora do lugar de conforto. O mais maluco era estar dentro e fora do circulo de corda ao mesmo tempo. Ora puxando, ora sendo puxado por ela.

E pelo menos pra mim, o resultado disso apareceu em cena. Na maneira com que nos colocamos nela.
Os nossos espectadores voyeur's puderam ver quem de fato eramos nós dentro daquilo tudo que apresentamos. Mas nós de uma maneira diferente: fora do lugar comum, colocados no lugar de cena.

Atribuo, de novo, o sucesso dessa proposta aos bailarinos.

Há que se querer muito fazer algo, quando pra isso temos que passar por cima de uma série de questoes pessoais pra chegar a um objetivo. E foi o que todos eles fizeram. Se despiram e foram fundo nas suas questoes. E isso em nome das minhas questoes.

Agradeço a todos vocês, por terem se apropriado com tanta verdade de tudo e por fazerem de Bondage, o lindo espetáculo que foi.

Vida longa aos artistas de verdade e os seus desejos!

Amo cada um de vcs!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

The Dark Site não tão Dark assim....

Well está na hra de escrever algumas coisas de novo.
Depois da loucura das ultimas semanas que culminam em despedidas, POA em Cena, Folias Fellinianas e (o melhor de tudo) estréia e microtemporada do BONDAGE.
Bem vamos a sucessão de fatos.
Hj pela manhã depois de uma conversa maravilhosa na Aula da Tati me dei conta que precisas escrever algo. algo tipo assim sei lá....
mas precisava.
Axo que aos poucos vou me encontrando e me perdendo.
Pensando na conversa matinal e nas sitações sobre o bondage de hoje, posso escrever aqui que sim, esse ano foi varie beaucoup trop amadurecedor.
Só o fato de aceitar que sim, trabalhei como técnico/interprete onde minhas ações eram de caminhar e organizar o espaço, amarrando as meninas que estavam dando show no Bondage já é algo. A um ano atras de idiota que era nem aceitaria uma coisa desta, ora bolas, afinal eu danço! e as pernas chegam nas orelhas.
Mas depois das audições Européias descobri salas cheias de pés na orelhas. Ok ter forma e fazer do corpo um lugar de mobilidade e conforto é ótimo ... mas descobri q não era td.
O q faz , o q traz o diferencial.
A resposta td veio de uma série d fatos bondagianos.
Um dos mais marcantes foi: a Jennifer e a corda.
O que prova o quanto a pessoa dança, o quão foda ela é e a capacidade de tocar uma platéia é dada por akela coisa sabe... akilo... uiahiuahiauhi
sim, por isso mesmo. O elogio é uma sucessão de pausas na fala, algo cheio de reticencias onde esfregam-se os dedos, e onomatopéias estranhas aparecem.
Akela coisa sabe.... akilo... era tão... ufaa... gggggggg... sabe... putz....
e o melhor é quando tudo isso vem de uma tarefa simples... puxar a corda.... Simples é a tarefa.. os subtextos são imensos e pesados e complexos, e lindos e quando um interprete consegue arranga o: sabe... (esfrega os dedos misturados com as onomatopeias), surge o grande e o verdadeiro bailarino.
Notei que Aos poucos este ano fui cansando de movimentações fazias, cansando de sentar no teatro com a postura: vamos agora façam algo que me impressinem e q eu não consiga fazer.
é axo que sei agora o que estou buscando.
Busco o esfregar de dedos, as reticencias e td a essencia da dança.
Td a generosidade e a troca/mistura que pode haver entre platéia e artista.
O processo até parecia Dark... mas n fundo é muito mais... sabe... assim... ffffff... sei lá....


quarta-feira, 27 de agosto de 2008



quinta-feira, 7 de agosto de 2008

conheço a mordida

desafios mis. me jogo de peito aberto.

mais cruel. gato brincando com o rato.
arrasta ela. levanta ela. tá.

mais rápido. brinca com o pulso da música. isso!
desloca. patins. corda. te vira. joga!

tá apertado o suficiente? agora canta.

qual o caminho para não deixar a seriedade aparecer pro outro como saco cheio?
cada um com as suas perguntas...

o processo está abrindo portas e janelas dentro de mim. bondage + coelhinhos.
dá medo. mas eu vou. pago pra ver onde vai dar.

até onde eu consigo ir? quanto é possível expandir os limites?
perguntas e mais perguntas. adoro.

o limite não está dado. testo. testo. testo.

me cutuca que eu vou. mas lembra que eu tenho dentes antes de colocar a mão dentro da minha boca. provocar também é um jogo perigoso.

respeito e confiança. é isso que sinto entre todos (os) nós.
isso e a vontade de se desafiar nos une e faz com que a entrega aconteça. sempre. surpreendentemente.

a distância me fez ver com mais clareza.
desafiada. entregue. agradecida.

domingo, 3 de agosto de 2008

Nosso Postal

Frente Verso

terça-feira, 29 de julho de 2008

segunda-feira, 28 de julho de 2008

notas do processo/ou/o dia depois da mordida

Que lindas são as minhas bailarinas. Diferentes. Todas.
E materializam os meus sonhos de dança. Tal e qual eles acontecem na minha cabeça.
A medida em que avançamos no processo, presto atenção ao ser de cada uma e vejo as diferenças. Uma mais aberta, outra mais resistente, uma mais suscetível e influenciável, outra convicta e passional. Todas inteiras e sedentas. Querendo muito e se doando, indo pra lugares onde normalmente não iriam. Levando o corpo e o pensamento junto. Pesquisando, tentando entender, decodificar, chegar lá.
É lindo o que acontece em alguns ensaios. As propostas causam reações e instauram climas propícios; terrenos férteis pra que o bailarino encontre nas suas questões e propostas, os links exatos com o tema e, por conseqüência, consiga encontrar o lugar de se colocar cada vez mais inteiro e presente no trabalho.
Isso me faz feliz. E tem acontecido com freqüência neste processo. Tomo isso como um ótimo sinal. E valorizo esse tipo de acontecimento, considerando como prêmio pela dedicação e cuidado que temos tido com o processo.
Que lindas são as minhas bailarinas...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

pq o nosso designer é foda



Valeu Make!
FICOU LINDO!
É só uma tirinha, mas é nossa!
(pra ver grande, clique na imagem)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

nós de prazer!

Tentando descrever uma sensação:
"...cada encontro me leva a agir e desejar. Em movimento, danço os meus limites e possibilidades! Minhas amarras subjetivas são combinadas, condicionadas e escancaradas junto as amarras das cordas, que "dão corda" a desafios de movimento. Danço! Danço o prazer da procura pelo prazer, amarrada ao espaço e aos que me olham, entendendo o prazer como uma constante percepcão do fenômeno do meu corpo em movimento, que se configura entre tensões e torções das cordas, do corpo e do espaço..."
Essa descrição me ajuda a responder uma das perguntas que o Doug fez no último ensaio: O que faz vcs terem vontade de vir aos ensaios?
e eu respondo...
"...saber que essa sensação que descrevi se mantém a cada ensaio, porque se sustenta o frescor do "Início"do trabalho, um início que nao acaba e se alimenta do fazer. Um eterno começar que não tem fim. E eu gosto disso! Mas melhor que escrever é perceber e sentir isso dançando!O início acessado a cada nó, a cada indicação, ou seja, a cada ensaio...SÃO NÓS DE PRAZER!
É Doug, é isso que me amarra à dança, portanto também estou amarrada à ela e isso me dá prazer!
amoamo...vc

terça-feira, 22 de julho de 2008


Corpo Mobilidade Habilidade Fragilidade Crueldade Pensar Querer Mover Prazer BONDAGE.

Tudo está amarrado. O corpo está amarrado. Nele mesmo, no tempo, no espaço. Os músculos amarram os ossos. A pele, os pêlos, os fios de cabelo. Amarramos o tempo no pulso. Assim como o espaço que trancamos para chamar de nosso. Também recrutamos esses conceitos para subjetiva e invisivelmente amarrar pessoas...
Tudo preso, tudo solto. Tudo móvel. Disponível. Saber com que sede se vai ao pote. Quanto se pode e quanto se quer. Dançar essa sede. Esse desejo e esse poder. Apoderar-se. Tomar as rédeas. Ser fio condutor. Encontrar o fio da meada. Construir redes e malhas. De sentidos, significados, (re)sentimentos. Amarrar ao corpo o desejo da dança. Amarrar literalmente o corpo para a dança. E então ver como ele dança. Forçá-lo a desejar o movimento para que ele o faça mesmo amarrado. Podado, encurtado, contraído, cansado. Reforçar o poder do desejo sobre o corpo. Dominar, escolher, propôr, supôr. Amarrar e soltar. Dançar e parar. Formar e deformar. Instigar e calar.
Isso me amarra à dança. Me prende a ela. Me domina.
Me dá prazer.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Me solte e me prenda...

Vou postar aqui, o que postei ontem, dia17/07 no meu blog. Como faz parte do meu processo no Bondage, venho aqui compartilhar com vcs. Está exatamente como escrevi lá, Beijim pra todos...

Bem Jenifer, e então?
Quantas coisas, não... Hoje foi um daqueles dias que eu precisava colocar os bichos pra fora mesmo e como é difícil o desapego. Pra variar estou em um novo ciclo, ou num velho, ou sempre no mesmo. Ok, está na hora de assumir que eu sou assim, não é apenas um ciclo. Assuma teus medos menina.

Tive ensaio do Bondage, o Didis tava lá, conversei com ele, e como é bom conversar com ele, ele entende minhas loucuras e sempre tão sincero. Adivinhem, chorei. Sim sou extramamente chorona, mas fazia um certo tempo que esse choro não vinha, um choro de angústia ou já nem sei mais. As vezes me pergunto, cadê a aquela paixão que me movia, aquela dança que pulsava... Tô num momento sem vontade de fazer aulas, mesmo achando que isso seja fundamental. Quando penso em dança, acende uma luzinha que grita(sim essa luz fala) " Cadê a técnica, cadê a técnica!!!" Enfim me pergunto, cadê a técnica? Sei que pra acessá-la é preciso um trabalho diário, passando por cima do cansaço e de tudo mais, mas as vezes tenho vontade de mandar tudo pro espaço e só dançar. E por que não? O problema é que não to conseguindo isso, a luz fica ali, me lembrando a toda hora.

Bom, conversei com o Didis sobre essas coisas todas e tudo mais, até que chegou minha vez de ensaiar. Acho minha cena bem forte, um amontoar cordas e uma caminhada, que me satisfazem demais. Apenas isso. amontoar e caminhar, mas não preciso de mais nada no momento e hoje em especial, com toda a sensibilidade á flor da pele o choro veio durante a cena. Foi punk, mas foi ótimo. O Doug perguntou se eu queria parar, mas eu quis ir até o fim, ver aonde esse monte de emoções me levaria. Achei que foi a melhor vez que fiz essa cena, apesar de ela ser bem recente. Eu não acredito que precisamos chegar ao ápice das emoções para se construir uma cena ou uma persona, acredito em outros meios, mas já que tava tudo ali gritando, deixei vir. E foi bom, percebi detalhes que não estavam ali antes, ou se estavam me passaram despercebidos. Percebi que adoro me mover e isso me move. Lavei um pouco a alma, mas o suficiente pra me sentir melhor, delícia!!!

Falando em Bondage, a Thata e a Lu estavam lindas, como é bom ver essas mulheres dançando, cada uma da sua maneira, mas lindamente. A Thata com seu novo look, arrasou no quadrado, um mulherão e a Lú sereiamente cantarolante, a música fica e não sai mais. Faltou a Grazi que não pode estar no ensaio hoje, mas que baila maravilhosamente tbm. Privilégio me mover junto com elas. O Márcio, com todo seu cuidado pra não machucar as bailarinas, xuxu!!! E preocupado com a estética do todo. E o dire, o Doug, que tá arrasando na direção do processo, com um turbilhão de idéias e pacientemente deixando a gente se descobrir. Ele vai fundo nos detalhes e eu estou adorando isso, ele percebe aquilo que poderia apenas passar sem grandes entusiasmos e transforma em cenas maravilhosas. Viva todas nossas amarras!!!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Desde as tramas de células que compõe os tecidos do corpo, tudo está amarrado. Os músculos amarram os ossos... A pele, os pêlos, os fios de cabelo. Amarramos o tempo no pulso para que fique perto. Amarramos o espaço com fios que não se vê. Esticamos uma corda de nós para o outro. De nós para nós. De si e do outro. Dominar e apoderar-se. Tomar as rédeas. Ser fio condutor. Encontrar o fio da meada. E nessa malha nos movemos parecendo soltos. Mas os fios estão ali. Delimitando, conectando, limitando. Como ser livre nesse emaranhado?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ensaio 7 - Experimento: "algemas"



segunda-feira, 14 de julho de 2008

De Voyeur para Dominador



No inicio a proposta era “Márcio preciso unir os dois pulsos da Thaís”ou “agora quero que a grazi não consiga separar suas duas pernas”, ainda “diminui o tamanho dos passos da Jeni edeixa ela movimentar os braços só do cotovelo para baixo” e “Não esquece da mordaça da Luiza”. Até ai as coisas estavam muito divertidas era só amarrar com nós que fossem bonitos e assistir o que iria acontecer. O diretor solucionava a poética e pedia que eu achasse soluções para amarras, enquanto as gurias solucionavam o movimento.
Então a dois ensaios atrás o Dougg pediu “Márcio agora amarra a Thaís como você quiser e depois brinca com ela” e “Thaís deixa ele te manipular ele será o dominador”.
E Na mesma hora na cabeça retumbou um “ei eu não quero amarrar ela, se é pra escolher deixa ela solta” e depois td um inicio de estudo de manipulação de um corpo que deixou ser dominado, um pequeno constrangimento, sorrisinho amarelo- e assim começou o laboratório e a mutação.
Aos poucos a brincadeira ficou interessante, eu já estava pingando suor e quando a coisa progrediu... o ensaio tomou outro rumo... ok, ok. De volta ao mundo do Voyeur.
Novo dia, novo ensaio, nova sala.... e novas propostas do diretor:
-Márcio amarra a Grazi nas pernas, e amarra os pulsos nas coxas e também coloca aquela amarra entre pulsos e joelhos. Ah e coloca o teu casaco cobrindo ela como se fosse um saco.
-Ok. Eu disse.
-Agora você tem toda a introdução da música pra arrastá-la até a outra diagonal, desamarrar as pernas e os pulsos das coxas e tirr o casaco de cima dela. Ela vai ficar só com as amarras que conectam pulsos e joelhos.
-Grazi continua pesquisando e utilizando aquela movimentação “x” mas vai pra cima dele tenta abraça-lo. Márcio tu não deixa.
A Música começou.... e uma sensação de ai coitada da Grazi veio na cabeça, mas junto com esta sensação veio um:
-Márcio olha pra ela, quando ela tentar te abraça derruba ela no chão e sai. Tu não tá nem ai. -Agora pisas nala. Isso!!!
Eu ainda estava pensando na Grazi e pra ser sincero acho que fiz um trabalho de merda, pq tive pena, e não consegui ser cruel, como a proposta pedia. Porque? Por que passo os ensaio tentando achar soluções para as amarras que não machuquem as bailarinas?
Não sei...
Sei que sai pensando em fazer um laboratório de crueldade e perversidade.
Como é dificil maltratar pessoas que se gosta, intencionalmente... ainda estou refletindo sobre a mudança de Voyeur para Dominador. Cruel e Perverso que brinca com os sentimentos e sensações alheias, marionetes humanas.
É de faz de conta, mas alguma coisas mexeu. O desafio de ser indiferente me pegou.
Talvez mais relatos venham dos laboratórios. A Cena de fato... ai vou eu.

domingo, 13 de julho de 2008

Mais sobre o projeto:




O Projeto Bondage foi desejado e idealizado no intuito de formalizar algumas questões pessoais a cerca da dança que foram tomadas como ponto de partida para a concepção do meu primeiro trabalho como coreógrafo. Essas questões dizem respeito ao corpo e sua mobilidade e às relações de poder na dança. Para complementar poéticamente o desenvolvimento dessa proposta escolhi a estética do fetiche sadomasoquista denominado “Bondage”, que consiste na imobilização consensual de parceiros como prática de prazer sexual ou estético, não estando uma opção condicionada à outra.

Minha maior questão de investigação nesse processo está relacionada à organização do corpo para o movimento em situações onde haja um elemento dificultador.
Que dança é possível realizar caso eu concorde que me seja subtraída ou diminuída a amplitude de movimento dos meus braços?
Como eu me moveria pelo espaço se minha articulação femural estivesse imobilizada?
Tornar obrigatória a adaptação do corpo a essa condição onde a mobilidade fica restrita muito além de qualquer dificuldade anatômica, articular ou óssea e, dessa necessidade de adaptação extrair material coreográfico é uma das tônicas do processo.

Percebi que as relações de poder na dança também poderiam ser abordadas sob o viés desse tema, já que se fala de domínio e submissão, o que invariavelmente acontece nos processos de criação em dança. Consensualmente, bailarinos e coreógrafos estabelecem regras e limites para o jogo de dominação, onde escolhas serão feitas tendo como objetivos o prazer comum e voyeurismo de uma platéia que, com prévio conhecimento, irá ao teatro para ver o produto dessa relação.

O grande desafio está justamente em juntar o resultado da investigação de cada um desses pontos e organizar todo esse material somando a ele o produto das escolhas e soluções formais que dão acabamento e auxiliam na composição de sentido de espetáculos cênicos: trilha sonora, iluminação, figurino, maquiagem, cenário e outros elementos de pré e pós produção como material gráfico, estratégias de comunicação e visualidades que vão dizer de antemão do que se trata e convencer o espectador a ir ao teatro no dia e hora marcados.

Para isso temos ensaiado durante três dias semanalmente contando com uma equipe formada por jovens artistas que assim como eu, estão em processo de formação artística e em busca de respostas para suas questões.

Apresentando a equipe:

Bailarinos:
Graziela Silveira
Jenifer Guedes
Luiza Moraes
Márcio Canabarro
Thaís Alves

Direção e Concepção Coreográfica:
Douglas Jung

Projeto Gráfico:
Márcio Canabarro

Videomaker:
Arion Moreira

Orientação:
Alessandra Chemello e
Diego Mac
Diretores Artísticos do Grupo Gaia - Dança Contemporânea

Este projeto está sendo desenvolvido com o apoio da Incubadora de Novos Coreógrafos do Grupo Gaia, que através de uma iniciativa pioneira está fomentando o trabalho de três jovens artistas, possibilitando a realização e apresentação de suas obras cênicas de dança. Para tanto, estamos contado com a infra-estrutura necessária para a realização de ensaios, orientação teórico/prática para os trabalhos e com uma verba simbólica para o custeio de despesas com os processos. A Incubadora de Novos Coreógrafos é parte de Projeto Mulheres Fortes em Corpos Frágeis do Grupo Gaia e conta com o Financiamento Fumproarte para a viabilização de três obras centrais de três diferentes corégrafos, além das três obras dos coreógrafos “incubados”.
Maiores informações em: www.grupogaia.art.br



e era isso...
Dougg

domingo, 29 de junho de 2008

Ensaio 6 - Experimento: quadrado

sábado, 28 de junho de 2008

Do prazer pela “Dominação”



Cada vez que eu entro na sala de ensaio, munido de um set de cordas e um case com inúeros CD´s, fica muito evidente pra mim que ali, nessa chegada, eu “atravesso uma rua” que dá acesso ao meu eu dominador. Bem na verdade, essa faceta aparece com muita força em todo o meu cotidiano. O que diferencia o domínio que eu reconheço no meu dia-a-dia deste que aparece na sala de ensaio é o exercício consciente e totalmente proposital, somado é claro da obediência daqueles que são dominados.

Dominar me dá prazer. Ordenar me faz sentir bem. Ver o resultado desse exercício me faz muito feliz.

Eu entendo que superficialmente esse domínio do qual eu falo não salta aos olhos, e acredito que os dominados não se sintam agredidos ou subjugados e, por vezes nem se dêem conta de que esse exercício de poder esteja acontecendo durante todo tempo dos ensaios.
Mas pra mim, isso acontece desde a entrada na sala e é muito bom. É bom poder escolher e articular propostas com base nessas escolhas. É bom encontrar soluções pra que essas propostas se concretizem. Administrar material humano. Procurar por elementos estéticos, criar poética e ver esse resultado sendo transformado durante os encontros.

Me sentir no comando de um processo e ao mesmo tempo sendo comandado por ele, reconhecer as minhas questões e idéias no produto de cada procedimento torna a investigação cada vez mais atraente e satisfatória.

Resumindo: Eu sinto muito prazer por estar à frente desse processo, tentando reconhecer, ordenar e distribuir todas as questões e/ou demandas da melhor forma possível e, sendo conseqüentemente dominado por ele.(por que o feitiço sempre se volta contra o feiticeiro)
Acho importante dizer que estou imensamente satisfeito e bem impressionado com as pessoas que estão trabalhando comigo.

Gurias, vocês são geniais.

Muito Obrigado.

Dougg

Ensaio 6 - Experimento 2

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ensaio 2 - Experimento 1

BONDAGE – Ensaio 1


Diáro de Campo 24/05/08
O primeiro encontro para o projeto foi repleto de surpresas. Boas surpresas, pode-se dizer.
Iniciamos experimentando as amarras possíveis de Bondage e investigando como se comporta o corpo do bailarino depois de amarrado, bem como qual a sensação de amarrar.
Conduzi e compartilhei com as bailarinas os melhores modos de se amarrar.
Utilizei em todas elas a técnicas Shibari de amarras japonesas. Ficou lindo em todas elas. E segundo elas é confortável e estimula o centro de força.
Testei várias propostas de movimentação e de todas elas pude vislumbrar um bom material e muitas possibilidades de desdobramento.
Coloquei a Jeni com uma amarra no quadril, da qual se estendia todo o restante da corda(de 30m) para a frente e pedi q ela desse o peso do corpo e fosse se enrolando na corda conforme avançava pelo espaço. Depois testei isso com a Luíza presa na outra extremidade da corda e seguindo a mesmpa proposição, a de avançar pelo espaço enrolnado a corda no corpo. O resultado foi super satisfatório e iremos repetir e investir nesse procedimento como uma possível coreografia do espetáculo.
Depois, delimitei com uma corda, dois quadrados no espaço e pedi q as bailarinas imobilizassem umas às outras e em duplas entrassem nos quadrados. Ficaram juntas Jeni e Luiza, Thaís e Grazi.
Em seguida, pedi q elas se conectassem uma a outra atraves do olhar e ou da respiração e começassem a se relacionar dentro desse espaço limitado.
Luiza e Jeni desenvolveram uma relação de extremo cuidado uma com a outra, devido ao fato de as duas estarem com amarras que prejudicavam muito a mobilidade. Houveram momentos em que elas simplesmente não conseguiam mais se mover, tamanha a dificuldade que os nós da corda impunham para o movimento. Num dado momento, Luíza conseguiu soltar as duas mãos. Daí em diante, ela começou a se relacionar com a Jeni de um jeito muito diferente de antes, evidenciando ainda mais o cuidado de uma para com a outra. A movimentação dela passou a ser suporte para q a Jeni pudesse se mover também e da melhor maneira possível. Em seguida, a Jeni soltou uma das mãos que estava presa aos pés. Ficando então com uma mão e um pé livre. Luíza com os dois pés amarrados e um pé livre. A música era Deer Stop do Goldfrap. Elas então investiram ainda mais na relação de apoio e suporte, criando imagens lindas através de equilíbrios e sustentações do corpo da Jeni pela Luíza.
Thaís foi amarrada pelos punhos nos dois joelhos. Grazi tinha apenas os punhos presos e as pernas ficaram soltas. A relação delas dentro do quadrado estava carregada de uma tensão sexual inocente. Uma cumplicidade absurda e muita diversão. Lembro de momentos em que os olhares delas se cruzavam e elas deixavam escapar risadinhas. Era muito bom de ver a cena acontecendo. Lá pelas tantas, a Grazi começou a ocupar o espaço q se formava entre os punhos e os joelhos da Thaís quando a corda estava tensionada. E daí em diante elas começaram a criar e explorar os espaços q o corpo da outra desenhava.
Depois de finalizar o exercício, conversamos e trocamos impressões sobre a proposta.
Escolhendo algumas articulações do corpo da colega, pedi q elas amarrassem essas partes e deixassem um excedente de corda, q serviria como fio de manipulação. Em seguida, a pessoa q havia sido amarrada deitava no chão entregava o peso do corpo e se deixava manipular
recebendo as indicações pelos fios presos as articulações.
Foi lindo.
Depois a mesma coisa se deslocando no espaço.
Depois amarrei os tornozelos e pedi q elas caminhassem com aquela amplitude articular e muscular.
Em seguida subi as marras para os joelhos e pedi q elas respirassem, suspendessem o corpo abrindo o C da coluna e se deixassem cair no espaço, mantendo o espaço articular/muscular das amarras nos joelhos. Pareciam folhas no vento. Investir mais no momentum e na suspensão antes da queda pelo espaço.
Depois, Shibari na Jeni e na Luiza, seguido de uma pequena improvisação de cada uma das duas. Foi um arraso.