Poéticas do movimento imobilizado(ando).

sábado, 20 de setembro de 2008

Me amarro na dança

No início elas já estavam lá. Enroladas, imóveis à espera. As cordas. Comprara muitos metros de vários tipos.
Eu, sem planos. Com algumas expectativas, um saco repleto delas e um case de cd´s que gravara um dia antes do primeiro ensaio.

Escolhi as bailarinas.
Conhecia todas. Conhecia bem.
Sabia o que elas tinham pra me oferecer. Sabia que podia confiar nelas.
Só nao sabia o que fazer com isso agora.
De qualquer forma, me resguardei, fazendo antes do primeiro ensaio, uma reuniao para explicar de que se trataria o trabalho, o que eu tinha em mente e o que eu pretendia com ele.

E lá fomos nós, nos aventurar pelo lindo mundo da dança.

O primeiro ensaio foi o momento onde eu tive a certeza de que tinha escolhido as pessoas certas. Toda uma entrega das gurias e uma disposiçao monstro para explorar as propostas. Saí de lá muito animado e confiante, sabendo que por mais que nao tivesse ideia de onde isso iria dar, em algum lugar legal eu chegaria.

Uma semana depois, o Márcio voltou da Europa e começou a fazer parte do processo. Isso mudou tudo.
A pesquisa se contaminou com o entusiasmo dele e dali fomos cada vez mais pra cima. As gurias cada vez mais dentro do processo. Dando muito delas e se colocando lindamente dentro das propostas, se mostrando como elas sao, sendo verdadeiras e sinceras naquilo que faziam.

Uma das coisas que mais me orgulho de ter alcaçado nesse processo criativo, é ter conseguido ser sutil e atento ao que elas me mostravam e com isso, respeitando os aspectos da invidualidade delas, levá-las pra onde eu queria. Por mais que eu saiba que algumas coisas ainda pudessem ir mais fundo, fiquei muito satisfeito com a maneira como trilhamos o caminho para a criaçao de Bondage.
Sutileza. Essa era a minha ferramenta mais poderoza de dominaçao. Ali eu seria dominador do processo. Sem perder de vista o fato de que na verdade seria o contrário. O processo me dominaria e me processaria, e a diferença entre uma coisa e outra era também muito SUTIL.
Cuidado, muito cuidado e respeito pelo trabalho, afinal ele era eu. Eu me colocando como artista, eu falando pro mundo. Eu dançando, eu pensando, eu dando minha cara pra bater.

Isso faz com que a gente saia do lugar confortável. Eu quis sair desse lugar e, numa medida, proporcionar isso pra todas as pessoas envolvidas no processo. "Amarrei-nos" todos juntos com uma corda grossa de uma fibra chamada "desejo" e assim fomos sendo arrastados pra fora do lugar de conforto. O mais maluco era estar dentro e fora do circulo de corda ao mesmo tempo. Ora puxando, ora sendo puxado por ela.

E pelo menos pra mim, o resultado disso apareceu em cena. Na maneira com que nos colocamos nela.
Os nossos espectadores voyeur's puderam ver quem de fato eramos nós dentro daquilo tudo que apresentamos. Mas nós de uma maneira diferente: fora do lugar comum, colocados no lugar de cena.

Atribuo, de novo, o sucesso dessa proposta aos bailarinos.

Há que se querer muito fazer algo, quando pra isso temos que passar por cima de uma série de questoes pessoais pra chegar a um objetivo. E foi o que todos eles fizeram. Se despiram e foram fundo nas suas questoes. E isso em nome das minhas questoes.

Agradeço a todos vocês, por terem se apropriado com tanta verdade de tudo e por fazerem de Bondage, o lindo espetáculo que foi.

Vida longa aos artistas de verdade e os seus desejos!

Amo cada um de vcs!

Um comentário:

Jeni disse...

Obrigada...Obrigada por ter acredito em mim, obrigada por me dar prazer novamente em dançar, obrigada pela delicadeza e sim, muito obrigada pela sutileza. Essa é a palvra do bondage, SUTILEZA. Toda tua sutileza nos levou a lugar tão bom de se mexer, tocou na ferida e não fez doer, fez ressurgir o prazer. Esse ano foi primordial pra mim, e tu é inteiramnete responsável por isso. Por me fazer acreditar que sou capaz. Há tanto não me sentia tão bem em cena. Amo-te dilícia do meu xixi..Tu é um Xuxu-Mor...