Poéticas do movimento imobilizado(ando).

segunda-feira, 14 de julho de 2008

De Voyeur para Dominador



No inicio a proposta era “Márcio preciso unir os dois pulsos da Thaís”ou “agora quero que a grazi não consiga separar suas duas pernas”, ainda “diminui o tamanho dos passos da Jeni edeixa ela movimentar os braços só do cotovelo para baixo” e “Não esquece da mordaça da Luiza”. Até ai as coisas estavam muito divertidas era só amarrar com nós que fossem bonitos e assistir o que iria acontecer. O diretor solucionava a poética e pedia que eu achasse soluções para amarras, enquanto as gurias solucionavam o movimento.
Então a dois ensaios atrás o Dougg pediu “Márcio agora amarra a Thaís como você quiser e depois brinca com ela” e “Thaís deixa ele te manipular ele será o dominador”.
E Na mesma hora na cabeça retumbou um “ei eu não quero amarrar ela, se é pra escolher deixa ela solta” e depois td um inicio de estudo de manipulação de um corpo que deixou ser dominado, um pequeno constrangimento, sorrisinho amarelo- e assim começou o laboratório e a mutação.
Aos poucos a brincadeira ficou interessante, eu já estava pingando suor e quando a coisa progrediu... o ensaio tomou outro rumo... ok, ok. De volta ao mundo do Voyeur.
Novo dia, novo ensaio, nova sala.... e novas propostas do diretor:
-Márcio amarra a Grazi nas pernas, e amarra os pulsos nas coxas e também coloca aquela amarra entre pulsos e joelhos. Ah e coloca o teu casaco cobrindo ela como se fosse um saco.
-Ok. Eu disse.
-Agora você tem toda a introdução da música pra arrastá-la até a outra diagonal, desamarrar as pernas e os pulsos das coxas e tirr o casaco de cima dela. Ela vai ficar só com as amarras que conectam pulsos e joelhos.
-Grazi continua pesquisando e utilizando aquela movimentação “x” mas vai pra cima dele tenta abraça-lo. Márcio tu não deixa.
A Música começou.... e uma sensação de ai coitada da Grazi veio na cabeça, mas junto com esta sensação veio um:
-Márcio olha pra ela, quando ela tentar te abraça derruba ela no chão e sai. Tu não tá nem ai. -Agora pisas nala. Isso!!!
Eu ainda estava pensando na Grazi e pra ser sincero acho que fiz um trabalho de merda, pq tive pena, e não consegui ser cruel, como a proposta pedia. Porque? Por que passo os ensaio tentando achar soluções para as amarras que não machuquem as bailarinas?
Não sei...
Sei que sai pensando em fazer um laboratório de crueldade e perversidade.
Como é dificil maltratar pessoas que se gosta, intencionalmente... ainda estou refletindo sobre a mudança de Voyeur para Dominador. Cruel e Perverso que brinca com os sentimentos e sensações alheias, marionetes humanas.
É de faz de conta, mas alguma coisas mexeu. O desafio de ser indiferente me pegou.
Talvez mais relatos venham dos laboratórios. A Cena de fato... ai vou eu.

Um comentário:

Luiza Moraes disse...

vi isso em ti no ensaio com a grazi.
teu texto voltou pra mim. será q eu sou cruel la no fundo? fico pensando q nao, n consigo fazer nada q machuque de verdade... mas me divirto brincando de fazer...
acho q tb vou escrever um texto... ta ficando gde demais p comentario...